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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Um ponto final nessa história de racismo?

“Se até Morgan Freeman falou que não temos que falar nesse negocio de racismo, porque eu, universitárix, vou falar disso? Isso irrita. Para vocês tudo é racismo. O que eu digo não é racismo, é só minha opinião.” Tradicional discurso racista de universitarixs Brasil afora.

Por Hellen Cristhyan*

Há dois meses, quando diversos insultos ao povo negro ganharam matérias em jornais e nas redes sociais, publiquei esse texto no Instituto Geledés** e no Observatório da Imprensa***. O combate ao racismo precisa ser levado tão a cabo que poderíamos escrever um texto por dia sobre o tema e não seria suficiente para mudar a cultura de opressão dominante.

São mais de 500 anos de tentativa de nos diminuir, de nos calar. Mas como diz a música Milagres do Povo “o povo negro entendeu que o grande vencedor/ Se ergue além da dor”. Hoje é dia de celebrarmos nosso herói, Zumbi. Mas ainda há tantos Zumbi’s que os livros não contam... É preciso declarar nossa negritude, nossa cultura, os nomes de nosso povo.  Superar essa sociedade capitalista, degradante e opressora.

É com a alegria da noticia de que acaba de ser protocolado o Projeto de Lei (PL) - 6787/13, pelo Deputado Federal Renato Simões, que institui o dia 20 de novembro como feriado nacional que convido a todas e todos a fazer a leitura do texto e refletir sobre o nosso cotidiano e de que maneira podemos somar forças para avança na construção de uma sociedade mais justa e igual. Há braços de luta!

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“A ofensiva racista cresce a passos largos, mesmo com todas as lutas pela garantia dos direitos humanos, sociais e contra o preconceito no Brasil e no Mundo. Enganam-se os que pensam que o lugar tido com tradicional de produção do saber, a universidade, está livre deste mal secular: visivelmente presente nos trotes, o racismo nas universidades ganha diferentes facetas para dificultar a sua denuncia e combate.

Este ano diversas declarações de universitárixs ganhou a primeira página de jornais impressos e muito debate nas redes sociais por confessado cunho racista. Foi assim no caso de uma aluna de Publicidade e Propaganda da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) que vinculou no seu twitter, no último dia 31, a frase "Acabei de quase ser atropelada por um casal de negros. Depois vocês falam que é racismo né, mas TINHA QUE SER, né?". Como se não achasse pouco a expressão “Tinha que ser, né?” afirmando seu racismo, a aluna da PUC-RS incrementou: "Eu não sou racista, aliás, eu não tenho preconceitos. Mas, cada vez que aprontam uma dessas comigo, nasce 1% de barreira contra PRETOS em mim".

Em um jornal acadêmico da UFSC, texto de aluna de 1ª fase do curso de Direito que se dispõe a analisar o mercado imobiliário em Florianópolis diz: “Você tem direito a subir um morro bem alto, não pagar água, e às vezes nem luz, não pagará mais aluguel, e vai ter que conviver com os traficantes de drogas (diga-se de passagem, afrodescendentes) que são sustentados por muitos estudantes dessa bela universidade.”; na UFMG um professor chamou um de seus estudantes (um jovem de 15 anos, negro) de macaco durante sermão por risadas na sala de aula; outro registro de destaque foi o caso do trote do curso de direito, também na UFMG, que vinculou a foto de uma estudante amarrada com uma placa dizendo “Caloura Chica da Silva”, além de fotos de cunho nazista; e essas cenas retratam apenas uma parte do problema.

Uma via de mão dupla

Declarações preconceituosas, a maioria de cunho racista, por parte de estudantes universitarixs, e a polêmica em torno desses episódios, são apenas a ponta do iceberg desenvolvido por toda contradição na formação histórica (social, política, cultural e econômica) de nossa sociedade e traz a tona à discussão sobre o papel social da universidade brasileira.

Em geral diz-se que o interesse da universidade, seja ela pública ou privada, é voltado ao desenvolvimento educacional como um motivador da construção da cidadania. Se essa premissa fosse posta em prática cumpriríamos o papel social dela: proporcionaríamos o bem estar social, a integração comunitária, a inclusão social. Entretanto nossas universidades vêm se cercando com grades, muros e portões, sem teorizar sobre a problemática das catracas – que cabe outro texto, e até polícia dentro do campus, como formas de segurança. Ações essas que vem promovendo a segregação social e aumentando o racismo dentro e fora delas.

A maioria desses casos de racismo fica no escombro social, como registros velhos e insignificantes para os órgãos educacionais, outros tantos nem saem das bocas daquelas vítimas, muitas vezes coagida a ficar quieta. Os registros de agressão a estudantes negrxs não são tratados com a relevância que deveria, e quando acontece de casos como estes serem averiguados, as autoridades competentes individualizam e punem o agressor, mas não tratam o mal pela raiz. Essa parece ser uma via de mão dupla, se por um lado Governo Federal institui cotas raciais e sociais nas universidades a fim de reparar um erro histórico, por outro, o racismo institucional se mostra impregnado também nas universidades.

Métodos de combate ao preconceito

A questão identitária que se faz cada vez mais presente, seja na mídia, na criação de políticas públicas, e em itens de pesquisas, deve ser foco na educação (do ensino básico ao universitário) e componentes da história afro deve ser de caráter obrigatório. Combater o racismo perpassa não só pelo acesso a educação, mas pelo tipo de educação que se é ofertado.

Precisamos avançar nos métodos de combate ao preconceito, sobretudo nas universidades. Planos de ação contra a defesa do ódio nacional, racial ou religioso que constituam propagação ou incentivo a xenofobia, racismo e violência, devem ser incluídos nas gestões das entidades estudantis; é papel de cada estudante, bem como dos centros acadêmicos e DCE’s realizar campanha nos campus contra discriminação e hostilização; buscar a implementação de ouvidoria dx estudante para denuncia de crimes difamatórios; combater os trotes violentos. Lutar por políticas de ações afirmativas, assistência e permanência é fundamental para a garantia dos direitos estudantis e o combate dos preconceitos.”

*Hellen Cristhyan é estudante do curso de Economia na UFSC, milita no coletivo O Estopim! e está como secretária-geral da União Catarinense dos Estudantes – UCE
***Observatório da Imprensa

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