"Fique informado do que acontece no Movimento Estudantil. Comente os textos, mande suas sugestões para: ucenarua@gmail.com
Vem pra luta você também!"

domingo, 4 de março de 2012

REFERÊNCIA REGGAE NO BRASIL, PONTO DE EQUILÍBRIO FALA AO SITE DA UNE

Durante a entrevista, os músicos discorrem sobre suas influências, gostos e até política, como a opinião sobre a legalização da maconha e o papel da juventude


Vinda lá do batuque da cuíca de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, uma banda de “reggae roots” tem representado com dignidade o gênero no Brasil e arrastado multidões por onde passa. Ponto de Equilíbrio nasceu da união de oito músicos cariocas com características muito distintas, mas com o objetivo em comum de difundir o tradicional reggae jamaicano e a cultura rastafári pelo país.

A banda, na estrada há mais de dez anos, tornou-se uma das principais referências de reggae no Brasil ao resgatar às raízes do movimento e utilizar a música como instrumento de resistência sociocultural. As letras, compostas pelos próprios integrantes, transmitem mensagens de igualdade, amor e justiça. O som é embalado por influências de dub, samba e de outros ritmos como a capoeira de Angola, o maculelê, a salsa e o maracatu.

O nome da banda, por si só, resume o estilo dos músicos: o equilíbrio entre o céu e a terra, o positivo e o negativo, o bem e o mal. “Esse é o ponto que todos nós buscamos e para onde todos retornaremos, quando terminada nossa missão nessa vida”, explicam os músicos para o site da UNE.

Mesmo sem tocar em rádios ou ter gravadora própria, a cada show o Ponto de Equilíbrio conquista um público maior e mais fiel. Eles tocam com frequência nas capitais do país e lotam as casas por onde passam. Algumas apresentações já chegaram a reunir 30.000 pessoas, como em Salvador e Fortaleza. A banda já participou de uma atividade da UNE, em 2005, durante a 5ª Bienal de Arte, Ciência e Cultura.

Ponto de Equilíbrio é formado por Helio Bentes (vocalista), Pedro Pedrada (baixo), Márcio Sampaio (guitarra base), Tiago Caetano (teclados), Rodrigo Fontenele (percussão), Marcelo Campos (percussão), Lucas Kastrup (bateria) e Ras André (guitarra solo). Na entrevista a seguir, os músicos falam sobre suas influências, gostos e até política, como a opinião sobre a legalização da maconha. Confira abaixo:

Quando falamos de reggae no Brasil, o Ponto é uma das referências. Como vocês caracterizam o reggae brasileiro? Existe um movimento crescente de bandas e influências?

Antes de nos juntarmos já haviam bandas de reggae no Brasil, grandes festivais com dias só para o movimento e programas de rádios só para a música. Com o passar dos anos isso mudou, vários festivais e rádios deixaram de existir e o reggae ficou sem apoio da grande mídia. Felizmente, com a chegada da internet, o reggae conseguiu ultrapassar essa barreira e todos puderam ter acessos às bandas e seus discos, criando uma mídia alternativa e particular para cada banda. Mas, como movimento, falta a inserção da cultura por meios de oficinas, mídias alternativas e rádios pra introdução da música reggae na sociedade.

Para vocês, o reggae brasileiro difere um pouco de outras bandas internacionais?

O reggae pelo Brasil tem seus diferentes sotaques e em cada região surge suas características de acordo com suas influencias musicais. Mas, as bandas nacionais e internacionais estão sempre bebendo da mesma fonte, a Jamaica.

A música do Ponto, inclusive, carrega na batida o reggae jamaicano, é visível. Mas, fora isso, vocês tiveram alguma influência direta da música brasileira?

Sim, nós somos todos de um bairro tradicional do Rio de Janeiro, Vila Isabel, que é considerado o berço do samba. Marcelo Campos, um dos integrantes, é filho do compositor Gracia do Salgueiro e fizemos, inclusive, um versão de “Janela da Favela” em reggae que ficou bem original ( http://youtu.be/cJdN9rzXkC4 ). Assim como bebemos em fontes da música Jamaica e brasileira, também nosso guitarrista André Sampaio está numa viagem pela África ampliando seus horizontes na música para trazer à banda o que tem de mais refinado no continente. Nossas raízes, se quisermos, podem ser infinitas.

O reggae ficou conhecido como música de protesto, que exalta a igualdade através de mensagens de amor e paz. Vocês seguem alguma ideologia política para compor?

Nossas mensagens vêm da vivência de cada um da banda. Temos músicas com três compositores  e músicas que já chegam praticamente prontas; outras trabalhadas em conjunto nos ensaios. Todas sempre de acordo com a atualidade da banda numa perspectiva brasileira e mundial.

O que é a figura do Bob Marley para vocês?

Bob Marley é sinônimo de boas músicas, melodias e composições. Ele foi a figura que popularizou o reggae e a cultura rastafari pelo mundo todo. Hoje em dia, ainda leva suas mensagens de igualdade e paz quando tocadas pelo mundo afora.

A maioria do público que frequenta os shows é jovem. Como vocês enxergam a juventude hoje? O reggae ajuda a buscar um caminho melhor?

As músicas são feitas com amor e isso pode ser sentido quando tocamos. Em nossas apresentações, a plateia fica envolvida e o jovem leva para casa aquele sentimento.

O Ponto de Equilíbrio tocou na 5ª Bienal da UNE, uma atividade que realizamos de dois em dois anos em que jovens do país inteiro se reúnem pata discutir a diversidade da cultura brasileira e debater os novos rumos para a construção de um país melhor. Vocês lembram da atividade? O que acham que mudou de 2007 para cá? Do ponto de vista da maturidade da banda e do Brasil.

Sim, eventos como esse promovem encontros de jovens de diferentes cantos do Brasil, que debatem temas em comum e acabam aprimorando seus conhecimentos, assim como a banda vai progredindo com sua música, pois a arte é puro sentimento e se aprimora com a prática e com o passar do tempo. Lançamos o terceiro disco no fim de 2009 (Dia após dia lutando) e agora planejamos o nosso primeiro Dvd para esse ano ainda!!

A cultura do reggae é muito rica e antiga, mesmo assim, muita gente associa reggae estritamente com o uso da cannabis e enxerga o movimento com um certo preconceito. O que vocês acham dessa associação?

Quem associa dessa maneira acaba por se enganar, pois a energia do rasta é positiva e prega o sentimento do amor entre todos. Sabemos que a cultura reggae é antiga, mas a cultura do uso da cannabis é muito mais antiga e faz parte de uma religião. Para quem está nessa, não venha classificar que quem ouve reggae fuma, pois existem roqueiros, sambista, brega, pagodeiro e até gospel que fazem uso da cannabis.

 Aproveitando o gancho dessa pergunta acima, como vocês avaliam a política que o Brasil adota em relação as drogas? Acham que a maconha deveria ser legalizada?

Acho que não deveríamos tratar a cannabis como droga, pois a cannabis é uma planta natural. Como podemos, dessa forma, classificar uma planta que foi Deus que criou? Fica a pergunta, por que não pode plantar? O resto dos alucinógenos devem ser tratados sempre da melhor maneira para toda a sociedade.

E como vocês acham que o Brasil enxerga a juventude hoje? Os jovens ainda são vistos como problema, em vez de solução?

Acho que a maioria das grandes mídias manipulam desse jeito. É só lembrar do caso da USP, em que um jovem foi violentado por ser negro, sem justificativa alguma, e a imprensa não chegou a aprofundar o debate. O jovem não tem como fugir, um dia será ele que assumirá tudo. Agora é trabalhar para que as cabeças desses jovens sejam as mais sensatas e unidas, para que tenhamos um futuro melhor.

Patricia Blumberg
www.une.org.br 

Nenhum comentário:

Postar um comentário